sexta-feira, 20 de maio de 2011

Sobre o Flamenco...



O Flamenco é um estilo musical e um tipo de dança fortemente influenciado pela cultura cigana, mas que tem raízes mais profundas na cultura musical mourisca. A cultura do flamenco é originária da Andaluzia em Espanha, mas tornou-se um dos ícones da música espanhola e até mesmo da cultura espanhola em geral.

O ?Novo flamenco? é uma variação recente do flamenco que sofreu influências da música moderna, como a rumba, a Salsa, o pop, o rock e o jazz

"Originalmente, o flamenco consistia apenas de canto (cante) sem acompanhamento. Depois começou a ser acompanhado por guitarra (toque), palmas, sapateado e dança (baile). O ?toque? e o ?baile? podem também ser utilizados sem o ?cante?, embora o canto permaneça no coração da tradição do flamenco. Mais recentemente outros instrumentos como o ?cájon? (uma caixa de madeira usada como percussão) e as castanholas foram também introduzidos." Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre

Sobre o "Nuevo Flamenco"

Há quatro décadas o flamenco vêm se modernizando, com isso as escolas na Espanha voltam a revalorizar o flamenco puro, tentando recuperar a escola da dança espanhola completa, onde se dança com todos os elementos, leques, castanholas, manton, xales, entre outros.

Sem deixar de apreciar a destreza do baile rápido, além de ser dificílimo, o que vemos hoje é que as bases estão sendo deixadas para trás, além de um estilo de baile agressivo que pode até assustar o público no lugar de curtir calmamente o desenvolvimento do sentimento e a evolução de uma coreografia. Também não vemos as diferenças entre um baile de seguiriya, soleares, bulerías, taranto ou etenera que não devem ser bailados do mesmo modo.

Etapas importantes para a formação do aluno são puladas. Normalmente, para alguém se tornar um solista, a verdadeira escola demora muito anos. Nesta preparação é a fase do "abc" das coisas, pois sem saber o abecedário ninguém pode ler. Infelizmente, isso é o que acontece atualmente com a dança flamenca. Aulas de exercícios violentos que não respeitam o ritmo de aprendizado dos iniciantes, formadas por grande número de componentes, onde não acontecem as devidas correções de um aluno de cada vez; aulas que são mais demonstrativas da destreza de um maestro que muitas vezes não tem a paciência de observar cada aluno. 
É necessário o tempo. Podemos competir com qualquer coisa menos com o tempo. O tempo é necessário para fazer a cabeça, os músculos, o raciocínio e o entendimento do tema.

O que estamos presenciando é um flamenco moderno com muitas fusões. O flamenco é uma dança difícil de ensinar, aprender, interpretar e sentir. Sentir é o mais importante e é o que menos se vê. A grande preocupação é o virtuosismo, a rapidez, a energia e até os malabarismos, numa corrida contra o tempo, com mal aprendizado das bases e que formam solistas despreparados que aprenderam uma coreografia de laboratório ? passada de um bailarino para outro ? e já sobem ao palco e se chamam de solistas.

Os flamencólogos em seu desesperado intento de salvar algo tão rico como a pureza do flamenco lutam e tentam fazer um resgate urgente das origens. A Espanha, berço da dança espanhola e flamenca, é a primeira culpada pela situação.

Devido a quantidade de artistas dedicados a esta arte, mas com poucos lugares para trabalhar, além de mal remunerados, estes acabam usando como alternativa uma criatividade baseada na fusão que anteriormente falamos das danças modernas, misturando elementos das danças americanas para chamar a atenção e realizar um trabalho de dança flamenca estereotipada, às vezes, ridícula, com falta de talento e emoção. E este é o drama que vem sendo vivenciado por esta preciosa arte.

Onde está o sentimento? É tão difícil um baile flamenco preparado onde o artista emana das entranhas mais profundas de seu ser a alegria, a tristeza e o drama, chegando até a entrar em um transe. O culpado do malabarismo ridículo. Já não vemos mais bailaores como Rafael de Córdoba, artista espanhol esquecido e que se sobressaiu numa época de escassos meios de difusões, como também Guito, Mário Maya, Carmem Amaya, entre outros. Posteriormente, sabemos que o flamenco renasceu através da trilogia de Carlos Saura, Antônio Gades e Cristina Hoyos com os filmes Bodas de Sangue, Carmem e Amor Brujo, com o extraordinário guitarrista de música flamenca Paco de Lucia e o também experiente cantaor Camarón de la Isla.

Quando cheguei no Brasil, em 1980, ainda não existia aqui o flamenco, mas apenas a popular dança espanhola. Como pioneira, minha proposta hoje nesta terra bendita é recuperar o flamenco autêntico da Escola Clássica Espanhola e da Escola Bolera, assim como as danças regionais.

Hoje se fazem profissionais em dois anos, ou menos, e se fala que o flamenco tradicional é antigo. Será que o flamenco não é mesmo antigo? Afinal data do século XVI. Na Espanha, existem especialistas da guitarra, do cante, do baile e os palmeiros. Essas são as origens. Essa é minha proposta a todos os interessados nesta arte tão difícil. Fazer um trabalho sério.

Tenho orgulho do meu trabalho, sobretudo do dom que Deus me deu, do meu aprendizado de muitos anos e grande respeito aos meus maestros. O flamenco não se aprende em cursos de 15 dias com professores que vêm da Espanha, cobram dinheiro extravagante e ensinam pouca coisa. Assim como quem vai à Espanha para voltar logo e traz um certificado de um curso de 15 dias, 30, 40 ou no máximo 90 dias que é o limite permitido de estadia aos estrangeiros, dizendo que seu flamenco é importado e fazendo um currículo falso.

O flamenco é um estilo de vida, de pensamento, dedicação e sobretudo talento. A concorrência que há hoje entre falsos profissionais que se dizem competentes é uma enganação em cima de um povo com desejos de aprender esta arte e que, por não ter pontos de referências, são enganados dia-a-dia na base do comércio da arte.

Eu estou unida aos flamencólogos que lutam na Espanha para resgatar a pureza, a nobreza e a autenticidade do flamenco da dança espanhola que é realizado através da comunhão de três elementos, o bailaor, o cantaor e o tocaor. Não se deve usar os meios para outros fins. E para terminar, como sempre digo, quem entra no flamenco nunca sai e se sair é porque nunca entrou, assim como quando se é jovem temos a energia e quando se é velho temos a sabedoria. E se não existe a sabedoria o que é que fica?

(*) La Morita é bailarina e coreógrafa, tem 60 anos, é argentina, reside em Curitiba e dança desde os 8 anos de idade.
 

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